07 outubro, 2015

Resenha: O Doador de Memórias


Título Original: The Giver
Título: O Doador de Memórias
Autor: Lois Lowry
Editora: Arqueiro

Sinopse: Em O doador de memórias, a premiada autora Lois Lowry constrói um mundo aparentemente ideal onde não existem dor, desigualdade, guerra nem qualquer tipo de conflito. Por outro lado, também não há amor, desejo ou alegria genuína. Os habitantes de uma pequena comunidade, satisfeitos com a vida ordenada, pacata e estável que levam, conhecem apenas o presente o passado e todas as lembranças do antigo mundo lhes foram apagados da mente. Um único indivíduo é encarregado de ser o guardião dessas memórias, com o objetivo de proteger o povo do sofrimento e, ao mesmo tempo, ter a sabedoria necessária para orientar os dirigentes da sociedade em momentos difíceis. Aos 12 anos, idade em que toda criança é designada à profissão que irá seguir, Jonas recebe a honra de se tornar o próximo guardião. Ele é avisado de que precisará passar por um treinamento difícil, que exigirá coragem, disciplina e muita força, mas não faz ideia de que seu mundo nunca mais será o mesmo. Orientado pelo velho Doador, Jonas descobre pouco a pouco o universo extraordinário que lhe fora roubado. Como uma névoa que vai se dissipando, a terrível realidade por trás daquela utopia começa a se revelar.


O meu primeiro contato com o Doador de Memórias foi o filme e mesmo já sabendo o que esperar da história, o livro me surpreendeu e me deixou bastante satisfeita e curiosa com a escrita estupenda de Lois Lowry.

Jonas tem onze anos e é mais um membro de uma Comunidade perfeita, onde não existem desigualdades, todos têm seu papel muito bem determinado, as regras são rígidas, mas necessárias e respeitadas por todos. Porém, quando chega a Cerimônia anual, o dia em que Jonas será nomeado um Doze e receberá a sua esperada Atribuição, a vida dele muda completamente.
Ele não recebe nenhuma Atribuição, na verdade ele é Escolhido pelos Anciões como sendo o novo Recebedor, um cargo de alta honraria que é exercido por um único indivíduo, o trabalho que torna possível a existência da Comunidade da forma que ela é.

O Recebedor possue todos o segredos e memórias do mundo, de como ele era no passado; uma única pessoa guardando para si as memórias de todo o mundo a fim de resguardar as pessoas das dores e das incertezas causadas por elas. No início, para Jonas todas as memórias são incríveis, mas isso é porque até então só recebeu as boas. Ao longo do seu treinamento de Recebedor, ele irá enfrentar memórias fortes e reveladoras que o farão questionar as regras e a Comunidade asséptica em que vive.

A escrita de Lowry é fluida e prazerosa de ler, o que dar uma sensação de rapidez no desenvolvimento dos acontecimentos, e o que se parece ocorrer em poucas semanas se passam na realidade ao decorrer de um ano, e 50 páginas são consumidas como se fossem apenas 5. Isso me prendeu ao livro e só consegui parar quando de fato cheguei ao final. Além disso, as características da Comunidade e suas regras, a forma como tudo é controlado, a padronização comportamental, o significado grandioso que tem cada mínimo detalhe do cotidiano daquelas pessoas; isso tudo me deixou maravilhada.

“Compreende que isto é a minha vida? As lembranças?”

Lowry realmente conseguiu criar uma sociedade distinta e funcional, complexa e com uma discrição minunciosa e, admito, que me esforcei para encontrar alguma falha ou algo mal explicado, lacunas e pontas soltas. E, para minha surpresa, o que a primeira vista pareceu uma lacuna gigantesca, na verdade poderia muito bem ter sido posto ali de propósito para fazer o leitor desenvolver a história junto com a autora, porque, afinal, a história só conta o ponto de vista de Jonas e fica bem claro que ele ainda está descobrindo a verdade, a realidade.

O protagonista, Jonas, é um personagem de características genéricas. Bonzinho, honesto e alegre. Mas tem uma característica essencial para a história: curiosidade. É a curiosidade que impulsiona Jonas a descobrir cada vez mais sobre a verdade por trás da perfeição de seu mundo e que transforma ele em um personagem corajoso e até um pouco inconsequente. Entretanto, Jonas está ali apenas para nos mostrar o desenvolver da história e fazer as coisas acontecerem, enquanto o foco de fato é a Comunidade e os questionamentos sobre o que é ser humano. Adorei que o eixo, nesse livro, realmente fosse a história e não o personagem principal; confesso que já estava exausta de histórias criadas apenas para ambientar uma arrebatadora história de amor.

“O rapaz suspirou. Sua cabeça pendeu para trás, a mandíbula soltou-se como se algo o surpreendesse [...] e aprendeu o significado da guerra.”

Embora esteja fascinada como o livro, o desfecho da história não surpreende, o que me incomodou no ato da leitura, mas pelo currículo de Lois Lowry estou tentando descobrir qual a verdadeira intenção dela com aquele final. Diria que esse seria um ponto negativo da obra, mas me questiono se não seria exatamente isso o que a autora quis. Minha impressão é que Lowry resolveu deixar que nós (leitores) criássemos o nosso próprio final, sem deixar um final grandioso, mas nos entregando um final que vai ficar para sempre em nossos questionamentos, ou pelo menos é o que tem ocorrido comigo.
Preciso deixar claro que O Doador de Memórias não é um livro de ação, com grande batalhas e insurreições, embora seja uma distopia (publicado em 1993, essa obra foge da ideologia de distopias como Jogos Vorazes e Divergente). A maior e significativa batalha ocorre dentro do protagonista e dentro do leitor. Pessoalmente, em vários momentos me peguei amando e desejando uma sociedade como a de Jonas, em outros realmente fiquei horrorizada com os seres apáticos e frios da Comunidade. Então acho que talvez a grande intenção de Lowry não fosse contar uma história e conquistar fãs, mas bater de frente com os valores pré determinados do leitor e fazê-lo questionar o mundo a sua volta, dentro do universo do Doador ou fora dele.

“Pela primeira vez escutou algo que sabia ser música. Ouviu pessoas cantando.”

E por esse grande enigma que deixou na minha cabeça e as cadeias de pensamentos que esse romance me proporcionou, dou cinco estrelas a O Doador de Memórias, mesmo sofrendo com as perguntas sem respostas.

1 comentários:

  1. Oi!!
    O Doador de Memórias também me cativou muito. Fiquei como você com o final, até descobrir que ainda tinham mais 3 livros pela frente para chegarmos ao verdadeiro final rsrs. Adorei sua resenha. Também me apeguei muito com a escrita de Lowry e fico feliz que tenha gostado tanto do livro.
    Leia os outros quando tive oportunidade, você vai gostar :D
    Beijos!!
    Quer Falar de Livros?

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